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Uma só têxtil poupa água que daria para Guimarães e Vizela

Em 2021, o volume do desperdício evitado pela Têxteis JFA daria para fornecer Guimarães e Vizela

A Têxteis JFA investiu seis milhões para reduzir o consumo de água. Foto: Miguel Pereira/GI

O projeto GIATEX – Gestão Inteligente de Água na Indústria Têxtil e do Vestuário –, iniciado em outubro e liderado por 13 empresas do setor, e pelas universidades do Porto, Minho e Beira Interior, a que se juntam cinco centros de investigação e as câmaras de Santo Tirso e Famalicão, quer mudar a face de uma indústria que é apontada como das mais poluentes.

O objetivo do projeto é baixar em 40% o consumo de água na indústria têxtil, mas há quem tenha metas mais ambiciosas. É o caso da Têxteis JFA, a empresa de Moreira de Cónegos, que, depois de investir seis milhões de euros para reduzir os consumos de água e energia, já consegue recircular 25% dos 960 mil litros que consomem os seus processos por dia. Em 2021, a poupança de água na empresa permitiu baixar o consumo em quase três milhões de metros cúbicos, o suficiente para abastecer as cidades de Guimarães e Vizela e ainda a vila de Moreira de Cónegos.

Depois deste esforço, João Almeida, CEO da JFA, coloca a fasquia bem alta. “O nosso objetivo ao integrar o GIATEX é alcançar 70% de recirculação da água”, aponta. A pressão para que estas medidas sejam tomadas é provocada pelo aumento dos custos da energia, pela escassez de água, mas também pelas crescentes exigências dos grandes clientes.

Os maiores compradores fazem auditorias às empresas, nas quais as questões da sustentabilidade têm um peso importante. A Inditex, o grupo que detém a Zara e outras grandes marcas, tem um índice, “Care for Water”, dedicado a avaliar apenas o uso da água. A colocação de sensores que permitam recolher dados sobre o seu uso e apoiar as tomadas de decisão é outro dos aspetos-chave do GIATEX.

Permutador de calor

A água rejeitada pelas indústrias têxteis está quente, “por isso, perde-se também a energia térmica”, esclarece Joaquim Mirra, da Adalberto. O engenheiro chegou à empresa de Rebordões, Santo Tirso, no final dos anos 80, para trabalhar num departamento de higiene, segurança e ambiente. “A componente ambiental era a que menos tempo me ocupava, hoje é 90% do meu trabalho”, afirma. Na mesma altura chegou à estamparia um permutador de calor que possibilita usar a água que é rejeitada para aquecer a que entra.

Na Riopele, a “menina dos olhos” de Ana Elisabete Gomes, gestora de ultimação, é a máquina que permite fazer o tingimento a frio. “Contudo, não dá para todas as fibras, a cor não é uniforme ao longo de todo o tecido e obriga a deixar o produto parado a maturar durante 24 horas”, esclarece.

Os corantes usados têm fortes implicações no uso de água. O GIATEX quer encontrar corantes de base biológica para substituir os químicos. Águas menos poluídas poderão ser mais recirculadas e fáceis de tratar.

Em 2013, a Riopele usava 240 litros de água por quilo de produto, hoje só precisa de 155.

Outro dos objetivos do projeto é colocar sensores nas máquinas que permitam, através de uma ferramenta de inteligência artificial, apoiar as decisões relativas à água: descartar ou reintroduzir no processo.

Esta reportagem foi publicada na edição em papel do Jornal de Notícias de 27 de janeiro de 2023.