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Medo afasta os consumidores dos elétricos usados

Tecnologia em desenvolvimento, redução dos preços das carros novos e receio dos consumidores contribuem para desvalorização dos elétricos em segunda mão.

Evolução rápida da autonomia baixa o preço dos elétricos usados. Foto: Miguel Pereira/ GI

Américo Barroso, sócio fundador da Só Barroso, está no mercado dos carros em segunda mão há 40 anos e resume o estado do mercado dos elétricos usados numa palavra: “indefinição”. Este especialista e os estudos feitos pelo Standvirtual e pela Marktest confirmam a impressão popular de que os  carros elétricos (EV) desvalorizam mais rapidamente do que os carros com motor de combustão. A razão é a desconfiança dos consumidores face à duração das baterias, mas também a redução dos preços dos EV novos e os enormes incrementos tecnológicos que tornam os carros obsoletos em poucos anos.

“Quando alguém compra um carro novo, pergunta-se: quanto é que valerá daqui a cinco anos, quando o quiser trocar? No diesel ou na gasolina consigo responder com uma pequena margem de erro, no elétrico ninguém sabe”, confessa Américo Amorim. “A incerteza é o maior inimigo dos negócios, por isso, este mercado ainda terá de amadurecer”, refere. Um estudo feito pelo Standvirtual e pela Marktest compara a desvalorização do Tesla Model 3 com a do BMW 320 D e conclui que no caso do modelo a diesel a desvalorização é muito gradual, enquanto no elétrico o preço cai a pique.

“Isto é o que acontece num mercado que ainda não está maduro, em que há melhorias da tecnologia a um ritmo elevado, como aconteceu com os telemóveis. Um carro elétrico de 2020 já está ultrapassado em termos de autonomia, por exemplo”, esclarece o CEO do StandVirtual, Nuno Castel-Branco. “Há três ou quatro anos, um EV com 200 quilómetros de autonomia era normal, hoje isso é impensável. Esses carros perderam muito valor. Já temos EV’s que fazem 700 quilómetros e fala-se em mais de mil com as baterias sólidas que carregarão mais rápidamente”, refere Roberto Gaspar, secretário geral da ANECRA

Elétricos novos estão a ficar mais baratos

“A necessidade de massificação da produção de veículos elétricos, para cumprir com as metas de emissões da UE, está a fazer baixar o preço dos carros novos e isso também tem impacto no mercado de usados”, aponta Nuno Castel-Branco.

Américo Barroso põe o dedo na tecla da incerteza e da mudança que as marcas chinesas estão a induzir. “Só no ano passado, a Tesla baixou o preço de alguns modelos em dez mil euros. Tiveram de o fazer, como reação aos chineses que estão a entrar no mercado com produtos de qualidade. Naturalmente, isto teve um reflexo no preço dos Teslas que andavam por aí a circular”, afirma. 

Habituado a receber clientes que querem comprar carros semi-novos (menos de 100 mil quilómetros, até quatro anos, um único condutor e revisões feitas na marca) reconhece que os clientes têm medo de comprar elétricos em segunda mão. O conselho deste vendedor de automóveis é que os compradores de EV’s exijam um teste de bateria feito na marca e defende que esta certificação terá de se tornar norma para dar credibilidade ao mercado. Todavia, alerta, “uma bateria pode ser testada hoje e estar tudo bem e, amanhã, rebentar”.

Segurança fala mais alto na hora de comprar usado

Talvez por isso, no estudo do Standvirtual e da Marktest, quando pediram às pessoas para completar as frase “o próximo carro novo que comprar será”, a maioria respondeu “100% elétrico”. Já quando lhes era pedido para completar a sentença “o próximo carro usado que comprar será”, uma proporção aproximada de pessoas respondeu “diesel”. Para Nuno Castel-Branco não há dúvida que os portugueses, podendo, querem um carro elétrico e só não o compram por questões financeiras. Perante a necessidade de adquirir usado, a segurança ainda inclina a decisão para o diesel. 

Nuno Castel-Branco tem uma visão otimista do mercado de EV’s usados. “Não há outra forma de cumprir as metas da UE”, aponta. “É preciso desmistificar a ideia de que as baterias morrem ao fim de sete ou oito anos”, afirma. “A Toyota está a dar garantias de bateria por dez anos ou um milhão de quilómetros. Quem é que faz um milhão de quilómetros num carro?” – pergunta.

Esta notícia foi publicada nas edições online e em papel do Jornal de Notícias, no dia 8 de agosto de 2024.