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Funcionários com deficiência: “Não o deixava ir embora da fábrica por nada deste mundo”

Desde 1992 que o empresário Manuel Guimarães tem funcionários com deficiência e não esconde que há problemas.

Nuno Costa e José Fernando com o empresário Miguel Guimarães, o fundador da empresa Jopedois. Foto: Miguel Pereira/GI

Na Jopedois produzem-se 42 mil pares de meias por dia. O trabalho faz-se ao ritmo frenético das máquinas e pode parecer desumano para quem não está habituado. “Tudo bem meu menino?”, pergunta Manuel Guimarães, o fundador da empresa que hoje é gerida pelos filhos, a Nuno Costa, um funcionário com deficiência que trabalha na casa desde 1992.

“Tudo”, diz-lhe de passagem, sem ligar muito. Vai desembaraçado com um enorme fardo de meias e, pelo jeito de andar, parece querer dizer “saiam da frente, não interrompam quem está a trabalhar”.

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Este não o deixava ir embora, nem por nada deste mundo”, assegura Nelo, como é conhecido o empresário de Fafe. Nuno foi colocado na empresa pela CERCIFAF, juntamente com outro colega com deficiência, José Fernando, quando tinham respetivamente 20 e 21 anos. “Pediram-me para os deixar fazer um estágio de nove meses. Quando chegou ao fim disse logo que ficava com eles e foi até hoje”, conta Manuel Guimarães.

Garantir o sucesso

“São os nossos meninos, apesar de terem mais de 50 anos, mudaram as relações dentro da empresa. Mas, já tive alguns problemas graves”, confessa. As relações, num espaço fechado, onde as pessoas passam muitas horas juntas, nem sempre são fáceis “e estas pessoas por vezes podem ser difíceis”, assume. “Já tive que decidir entre um deles e outro funcionário e não tive dúvidas: protegi quem precisa de proteção”, conta. Nessa altura, o empresário teve a ajuda “preciosa” da CERCIFAF que nunca deixou de acompanhar estes antigos formandos.

Nuno Costa e José Fernando na Jopedois. Foto: Miguel Pereira/GI

“O Estado financia o acompanhamento durante dois anos, mas nós continuamos porque não há outra maneira de garantir o sucesso”, afirma Luís Roque, dirigente da CERCIFAF responsável pela colocação dos dois trabalhadores.

Nuno Costa continua a ir comer à cantina da CERCIFAF, apesar de formalmente já nada o ligar à instituição. “A comida é boa e é mais barata”, afirma, com ar malandro. Manuel Guimarães realça que, apesar daquele ar de menino grande, Nuno foi o sustento da casa onde vive com a mãe durante a pandemia, em que a empresa nunca parou de laborar.

Esta reportagem foi publicada na edição em papel do Jornal de Notícias de 5 de fevereiro de 2023.