Espetáculos reinventados e cenários reaproveitados, contra a ideia de produto de consumo imediato, é a fórmula para o Vaudeville Rendez-Vous 2023.
O festival internacional de circo contemporâneo, organizado pelo Teatro da Didascália, em coprodução com os municípios do Quadrilátero – Barcelos, Braga, Guimarães e Famalicão -, acontece, a partir desta terça-feira e até 22 de julho, pela nona vez. Nestes quase dez anos, o evento granjeou reconhecimento e passou a fazer parte de plataformas internacionais como a Circustrada e a Circusnext. A edição de 2023 é um olhar retrospetivo, trazendo de volta companhias que já passaram pelo festival e convidando criadores a reescreverem trabalhos anteriores, de um novo ponto de vista ou a criarem novos espetáculos a partir de acervos cénicos de outras produções.
A necessidade desta abordagem, segundo o diretor artístico de festival, Bruno Martins, “surgiu da aproximação da data redonda [10º aniversário] e da evidência de que que já passaram tantos artistas pelo festival, alguns deles nas suas primeiras apresentações e que agora já têm carreiras consolidadas.” Bruno Martins dá o exemplo da dupla Circus Katoen que apresenta “Grasshoppers” (Guimarães, dia 20; Braga, 21 e Famalicão, 22) “e que esteve na edição inaugural do Vaudeville, com a sua primeira produção.”
“A ideia de programar sem estar à procura do novo, buscando espetáculos maturados, é também uma afirmação contra o consumo rápido e o abandono das obras e dos artistas”, esclarece o diretor artístico. É assim que nasce a estreia absoluta “Solos a 1800” (Barcelos, dia 20 e Braga, 22), da companhia portuguesa, sediada em Matosinhos, Radar 3600. Esta companhia trabalha com cenários em grande escala – invulgar em Portugal – e tinha no baú o material cénico do espetáculo “Projeto Secreto”, que estreou em 2013 e que rodou ao longo de oito anos. Estes objetos ganham agora uma nova vida. A Radar 3600 é também uma regressada ao festival, depois de ter estado na edição de 2016. Julieta Rodrigues que partilha a direção artística desta criação com António Oliveira, confessa que o convite veio em boa hora, “porque sentimos que aquele material cénico que estava parado não tinha sido completamente explorado.” Quanto ao espetáculo: há uma estrutura, para dois artistas, um homem e uma mulher, que roda a 360 graus (lá está), o que faz com que a cena que o público vê de um lado não seja igual ao que se vê de outras perspetivas
Arranque em festa
No caso dos Gandini Juggling (Barcelos, dia 20; Guimarães, 21), pegaram em “Smashed”, um espetáculo de malabarismo com sete homens e duas mulheres e inverteram o desequilíbrio dos sexos, em “Smashed 2”, passam a atuar sete mulheres e dois homens. “Runa” (Guimarães, dia 20; Barcelos, 21), do sírio, radicado na Catalunha, Amer Kabbani, acaba por também ser uma reescrita, neste caso um processo de reconstrução pessoal de um artista desenraizado. Neste trabalho de autoficção somos conduzidos a refletir sobre a bolha que nos protege, na Europa, do mundo em convulsão à nossa volta.
Embora o evento comece oficialmente no dia 18, com laboratórios e oficinas para estudantes e profissionais, o primeiro espetáculo, “En attendant le grand soir”, dos franceses Le Doux Supplice, faz-se no Largo do Pópulo, em Braga, quarta-feira, às 22 horas . Trata-se de uma festa em forma de baile que evolui para um desafio de equilíbrio. No total há 11 espetáculos para ver, em 28 apresentações.
A entrada nos espetáculos do Vaudeville Redez-Vous é gratuita e a programação do festival está disponível na página do Teatro Didascália e nas agendas dos quatro municípios de Quadrilátero Urbano.
Esta notícia foi publicada na edição online do Jornal de Notícias no dia 17 de julho de 2023.