Skip to content
Home » Blog » “Teleférico é solução com investimentos muito mais baixos”

“Teleférico é solução com investimentos muito mais baixos”

Jornal de Notícias, edição em papel de 19 de junho de 2022.

Recentemente um estudo liderado pelo professor Álvaro Costa, da Universidade do Porto,
apresentou o teleférico como uma das soluções para o transporte público em Guimarães.
César Dockweiller, responsável pela implementação do Mi Teleférico, a maior rede de
transporte público deste género, em La Paz, na Bolívia, veio à Cidade Berço expor as razões
que levaram à adoção deste sistema no país andino. O economista explicou ao JN que ele
próprio se surpreendeu quando, no comparativo inicial, em 2012, o teleférico se
superiorizou a outros meios de transporte que consideraram. Atualmente, o Mi Teleférico
transporta 290 mil pessoas por dia e tornou-se na espinha dorsal do sistema de mobilidade
das cidades de La Paz e El Alto, numa área urbana com cerca de três milhões de habitantes.


Como surgiu a ideia do teleférico como transporte público em La Paz?

Quando era assessor geral do Vice-Ministério dos Transportes, pediram-me que analisasse a
forma de resolver o problema dos transportes. Estudei as nossas cidades e concluí que havia
algumas onde tínhamos que intervir de imediato. Há umas 15 mil instalações de teleféricos no
mundo, quase todas de turismo, só 30 são teleféricos urbanos. Por isso, quando começamos o
nosso estudo, em que comparamos as várias alternativas, o teleférico aparecia na tabela numa
coluna marginal. Tivemos em conta três variáveis: o crescimento da população, o aumento do
parque automóvel e o espaço público na cidade. Levamos em linha de conta questões como
custo de investimento, sustentabilidade sem subsídios, tempo de implementação, qualidade
de serviço, impacto ambiental… e ficamos surpreendidos quando verificamos que o teleférico
surgiu como a melhor solução no comparativo.
“É uma solução muito adequada para resolver o problema dos
transportes, sem afetar o meio ambiente nem património e com
investimentos muito mais baixos que outros meios”


Como reagiram as pessoas quando lhes foi apresentada esta solução?

É uma tecnologia emergente, então as pessoas, inicialmente, têm medo da mudança ou
podem pensar que se trata de uma brincadeira. Mas é muito sério, porque é uma solução
muito adequada para resolver o problema dos transportes, sem afetar o meio ambiente nem o
património e com investimentos muito mais baixos que outros meios. Além do mais, se for
bem administrado, pode ser sustentável sem requer subsidiação.


Em La Paz havia pendentes para vencer. Faz sentido o teleférico numa cidade com um relevo
pouco acentuado, como Guimarães?


A primeira linha que inauguramos foi entre La Paz (a 3600 metros) e El Alto (a 4050 metros),
neste caso havia um declive para vencer. Mas, entretanto, temos três linhas em El Alto, numa
zona de planalto. O teleférico é aquilo que eu chamo “acupuntura de cidade”, porque o
impacto é mínimo, cada torre é como uma agulha, ocupa 2,5×2,5 metros no solo.

Há soluções que são viáveis para uma cidade grande, mas que não são exequíveis para
cidades médias, pelos custos que implicam. Como é que o teleférico se compara em termos
do investimento necessário com outros meios de transporte?


O teleférico que instalamos em La Paz – o melhor que existia no mercado a todos os níveis –
custa, por quilómetro, 10% do que custaria uma linha de metro. Na comparação com o BRT
[autocarro de linha dedicada], o custo por quilómetro é de 50%. Contudo, a linha de teleférico
tem uma vida útil de 40 anos e os autocarros têm que ser substituídos passados oito ou dez
anos.
A cidade de Guimarães tem experiência com um teleférico turístico que pára vários dias para
manutenção. Como é que se coordena isto num serviço público de transporte?


As manutenções rotineiras são feitas todas as noites, no período em que o sistema está
parado. Anualmente, há uma paragem, de cinco a sete dias, para manutenções maiores. É um
sistema muito seguro, com 32,5 quilómetros, distribuídos por 10 linhas, todas conectadas, sem
acidentes a registar, desde 2014.


Guimarães é uma cidade com muito património. Uma solução como o teleférico não poderá
ser muito intrusiva?


Temos algumas cidades, na Bolívia, com características similares a Guimarães, como Potosí.
Uma cidade com ruas estreitas, Património da Humanidade, como aqui. Para estas cidades
pensamos numa solução para chegar tangencialmente ao centro, sem entrar. O teleférico tem
a vantagem de ser muito adaptável. Em La Paz temos uma estação subterrânea, porque
precisávamos de preservar uma praça e a vista da fachada de um museu.