O novo diretor do Teatro Oficina quer “construir um teatro onde as pessoas só entram por amor”.

O Teatro Oficina (TO) apresentou, ao fim da tarde desta terça-feira, no pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães, Bruno dos Reis como o diretor convidado para dirigir os destinos da companhia nos próximos dois anos. O dramaturgo, encenador e artista multidisciplinar vem do GrETUA (Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro), cuja direção artística assumiu em 2018. Na apresentação, prometeu reinterpretar a forma como são feitas as Oficinas do Teatro Oficina (OTO), “criar condições para surgirem mais oportunidades para os jovens licenciados que querem entrar” e apostar na dramaturgia portuguesa contemporânea.
Bruno dos Reis sucede a João Pedro Vaz, Sara Barros Leitão e Mickael Oliveira, como diretores convidados do Teatro Oficina. O vereador da Cultura da Câmara Municipal de Guimarães, Paulo Lopes Silva, pediu-lhe “um ciclo em que pegasse neste legado e que com ele pudesse estabelecer uma relação com o território”. Com o pequeno auditório do CCVF mais do que cheio – com representantes de companhias amadoras, alunos de teatro, atores, amantes de teatro e outros agentes -, para ouvir a sua apresentação, garantiu que vai ter a porta aberta para os receber e ouvir as suas ideias.
O novo diretor deu um cariz de intimidade ao momento, quando partilhou que voltou ao teatro, especificamente para encenar “Diários de Nijinsky”. Referia-se aos escritos do bailarino russo Vaslav Nijinsky, numa altura da vida em que já estava mentalmente muito instável, mas consciente de que a qualquer momento seria internado. “Ele queria ganhar muito dinheiro na bolsa, para construir um teatro onde só entrassem pessoas por amor”, referiu.
As criações do TO, no próximo ano – os 20 anos do CCVF – devem ser orientadas pela “imagem e a memória”, para no próximo – Capital Verde Europeia – serem guiadas pelo “mito e pela paisagem”. O TO terá duas criações anuais, “uma mais partilhada com as gentes do território e outra mais da ‘hipotética’ companhia”. Garante que “o foco será na dramaturgia portuguesa contemporânea”. Para logo de seguida avisar que “é perigoso sermos bairristas”, mas ressalvando que “o teatro tem uma ligação com o território”.
Um piscar de olho aos alunos da UMinho
Com o novo diretor artístico o modelo das OTO deve ser alterado, “porque isto de ensaiarmos uma vez por semana, não funciona”, aponta. Quer ver acontecer no TO aquilo que testemunhou no GrETUA: “alunos da ESMAE, faziam 75 quilómetros depois das aulas para irem buscar algo que lhes parecia que o curso não dava. Isso pode acontecer aqui com os alunos da Universidade do Minho”.
Bruno dos Reis semeou alguma esperança nos muitos estudantes e ex-estudantes de Teatro que assistiram à sua apresentação quando referiu que “o TO deve ser permeável aos jovens” e mencionou as “muitas pessoas capacitadas que estão nesta plateia” e que “podem legar esse talento para que ele viva através de outros”. Mas também já tinha dito: “a única coisa que vamos conseguir é falhar” e lembrou que o TO não pode ser o único a criar oportunidades.
Levar muita gente a Guimarães para ver boas peças
Com uma conceção original relativamente à circulação das peças, o encenador considera que, “para Guimarães, se calhar, é melhor que elas sejam boas e que, por isso, muitas pessoas venham aqui vê-las”. “Quando se viaja com um espetáculo, deve-se fazer mais coisas em paralelo”, sublinha.
Bruno dos Reis diz-se “maravilhosamente acolhido em Guimarães”, onde já fixou residência. O diretor convidado do TO já não era desconhecido do público vimaranense como dramaturgo: o seu mais recente trabalho, “Na Relva Esfola Menos”, criado para estádios de futebol, foi apresentado, em março de 2024, no estádio D. Afonso Henriques, no âmbito da 6ª edição do Festival END. Ainda no ano passado, nos Festivais Gil Vicente, assumiu a autoria e a encenação de “Vi o Ayrton Senna morrer nos olhos do meu irmão”.
Esta notícia foi publicada na edição online do Jornal de Notícas, no dia 21 de janeiro de 2025.