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Escolas vimaranenses aderiram aos manuais digitais mas agora faltam computadores

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Há conselhos pedagógicos a considerar a possibilidade de voltar aos manuais em papel se o Governo não der garantias de fornecer os equipamentos em tempo útil.

Foto: Rui Dias

As escolas de Guimarães que aderiram ao projeto-piloto Manuais Digitais estão globalmente satisfeitas com esta nova ferramenta digital, contudo, a falta de “kits” informáticos para distribuir aos alunos faz com que os conselhos pedagógicos estejam a repensar a atitude a tomar no próximo ano.

O problema agrava-se com os computadores avariados. A situação das escolas vimaranenses repete-se um pouco por todo o país, nas escolas que estão a testar os manuais escolares digitais. Aos diretores dos agrupamentos, a tutela diz que não vai comprar mais computadores enquanto houver escolas com equipamentos na prateleira.

A Escola Secundária de Caldas das Taipas aderiu ao projeto-piloto no ano letivo de 2022/23, com as turmas de 11º ano que, entretanto, transitaram para o 12º ano com manuais digitais. Este ano, os novos alunos do 10º ano também deixaram os manuais em papel. “Foi uma opção estratégica decidida pelo conselho pedagógico, para darmos aos nossos alunos recursos para melhor enfrentarem a vida ativa”, aponta Celso Lima, o diretor da secundária taipense.

Contudo, a escola tem enfrentado problemas para facultar os “kits” de computador e conectividade aos alunos. “Logo em julho, agosto, fizemos saber à tutela que os computadores dos alunos que terminavam o 12º ano não chegavam para equipar os alunos que estavam matriculados no 10º ano”, aponta.

“Até porque as avarias acumulam-se e no fim do ciclo de três anos, não é garantido que o computador ainda vai servir para outro aluno”, acrescenta. Os diretores escolares lembram que a maioria dos computadores que foram distribuídos em anos anteriores já estão fora da garantia e é frequente os pais alegarem falta de meios para os reparar.

“São equipamentos de fraca qualidade, mesmo assim com reparações caras. Substituir um ecrã custa 150 euros. Além disso, são intervenções demoradas, o aluno fica sem o equipamento durante meses”, aponta Celso Lima. No Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, entre os alunos do 7º, 8º e 9º ano que estão no projeto-piloto, há cerca de 60 sem computador e a diretora, Margarida Jesus, afirma que o grande problema são mesmo as avarias.

O conselho pedagógico do Agrupamento de Escolas Gil Vicente decidiu aderir, este ano letivo, aos manuais digitais com todas as turmas do 2º e 3º ano. “Não quisemos criar situações de desigualdade, em que um aluno estivesse a usar manuais digitais e um amigo ou um familiar, na mesma escola e no mesmo nível de escolaridade, estivesse a usar os manuais em papel”, refere a diretora, Cristina Silva. Nas 17 turmas que integram o projeto, “ainda faltam entregar cerca de 40 ‘kits’”.

A escola encontra soluções mas, em casa, há alunos que ficam sem computador

Tal como na Secundária das Taipas, as escolas do Agrupamento Gil Vicente têm procurado soluções. “Temos computadores da escola que emprestamos aos alunos”, esclarece Cristina Silva. “Esta solução, porém, não é a ideal, porque não podemos permitir que os alunos levem os equipamentos para casa”, refere a diretora.

“Esta situação agrava as desigualdades entre os que têm meios para ter computadores e os que não têm”, alerta esta professora. Em Moreira de Cónegos, Maria de Jesus, empresta os portáteis da escola e, “em períodos de férias, emprestamos computadores de bancada para os alunos levarem para casa”.

“O Estado está a falhar no mais básico”

Hilário Gomes

“Quando as escolas aderiram a estes projetos, ninguém pensou que o Estado ia falhar no mais básico que são os computadores”, comenta Hilário Gomes, presidente da Associação de Pais da Escola Secundária de Caldas das Taipas. “As escolas que procuram ser inovadoras e acompanhar a mudança estão a ser penalizadas”, queixa-se.

Hilário Gomes critica a expectativa que o Governo criou de dar computadores a todos os alunos. “Os computadores devem ser dados a quem tem insuficiência de recursos, até porque os equipamentos avariam e vai ser preciso estar sempre a comprar. É um custo imenso”, avisa.

Este pai chama ainda a atenção para o facto de já estar decidido que as provas de aferição do 2º, 5º e 8º ano e os exames de 9º ano vão ser digitais, “mas não há largura de banda nas escolas que suporte a realização de todos os testes em simultâneo”

Hilário Gomes queixa-se por, “nesta altura adiantada do ano”, ainda não haver provas modelo para os exames de Língua Portuguesa e Matemática do 9º ano. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Escolas Públicas, acompanha os pais nesta preocupação. “Embora esteja previsto um grande reforço da rede wi-fi, as provas de aferição começam já em abril, não me parece que se resolva nada para este ano”, receia.

Escolas podem voltar atrás

Os diretores escolares vimaranenses são unânimes relativamente às virtudes dos manuais digitais. “São muito mais do que apenas a tradução para o digital dos velhos livros, trata-se de um conjunto de novas ferramentas”, refere Celso Lima. “Estes computadores são para ser usados em sala de aula com supervisão. O que nos deve preocupar é a exposição dos jovens aos ecrãs, sem supervisão, fora do tempo letivo”, afirma Cristina Silva.

“Os manuais digitais são excelentes ferramentas pedagógicas, inclusivamente com recursos para trabalhar com alunos com mais dificuldades ou com alunos mais avançados”, reconhece. Contudo, os conselhos pedagógicos que decidiram avançar para este projeto-piloto consideram agora a possibilidade de regredir para o papel, se o Ministério da Educação não der garantias de fornecer os meios necessários, em tempo útil.

Segundo os diretores, a Direção Geral de Educação responde aos seus apelos dizendo que não pode lançar novos concursos para a aquisição de computadores sem que estejam distribuídos os que foram anteriormente atribuídos aos estabelecimentos de ensino. “As escolas não podem guardar os “kits” em armazém”, protesta a diretora do Agrupamento de Escolas Virgínia Moura.

Segundo algumas informações haverá cerca de 200 mil computadores que não foram levantados por pais que não quiseram assinar o auto de entrega em que se responsabilizavam pela devolução, três anos depois, “nas condições que resultam de um uso responsável e prudente, sob pena do acionamento de obrigações contratualmente previstas por perda ou deterioração dos bens e equipamento”.

A solução para a falta de computadores nas escolas aderentes aos manuais digitais passa pela reafectação dos computadores que estão atualmente parados noutras escolas, mas isso ainda não foi feito, apesar de haver estabelecimentos de ensino a fazerem pedidos desde o verão passado.

O Ministério da Educação não respondeu às perguntas sobre quantos alunos são afetados por esta falta de computadores no país e o que está a ser feito para a resolver, até ao fecho desta notícia.

A 4ª fase do projeto-piloto Manuais Digitais, uma experiência para substituir gradualmente os manuais em papel , abrange este ano letivo 20 mil alunos, do 3º ao 12º anos, em 160 escolas por todo o país.

Esta notícia foi publicada no Mais Guimarães no dia 9 de fevereiro de 2024.