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Um bairro eleito Património da Humanidade para conhecer

A Zona de Couros, em Guimarães, acaba de ser distinguida pela UNESCO, mas ainda passa despercebida à maioria dos visitante

Na Zona de Couros está a crescer um novo campus universitário da UMinho. Foto: Rui Dias

Em tempos anteriores à formação do reino de Portugal, no território onde hoje se situa a cidade de Guimarães havia duas vilas: uma, mais antiga, na zona baixa, ligada ao mosteiro ali mandado edificar por Mumadona Dias, entre 950 e 951 e outra, na parte alta, em volta do Castelo, mandado edificar pela mesma condessa, em 959. Fora de muros, junto à ribeira, viviam os artesãos que se dedicavam a curtir peles, numa zona que ficou conhecida como Couros e que acaba de ser inscrita na lista de Património da Humanidade.  

O Castelo é um bom ponto de partida para começar um passeio a pé pela Cidade Berço, atravessando o Centro Histórico, classificado desde 2001 pela UNESCO, até chegar à Zona de Couros, reconhecida com a mesma distinção, no passado dia 25 de setembro.

Na Colina Sagrada (o outro nome pelo qual os vimaranenses conhecem o Monte Latito) pode-se visitar o Castelo de Guimarães, Paço dos Duques de Bragança, estátua de D. Afonso Henriques e a Capela de São Miguel, onde, diz a lenda, o primeiro rei de Portugal foi baptizado. Fazendo a descida pela Rua Dona Constança de Noronha, é possível contemplar a estátua da condessa Mumadona Dias, encarando a colina, no largo com o seu nome.  Para entrar no Centro Histórico, o melhor é percorrer o adarve do último tramo da muralha medieval que ainda está preservado. Vai desembocar nas portas do Museu Alberto Sampaio, onde se pode contemplar o loudel (peça de vestuário usada sobre a cota de malha) que D. João I usou na Batalha de Aljubarrota. O rei tinha uma devoção especial a Santa Maria de Guimarães e veio à vila (só foi elevada a cidade em 1853) em peregrinação, agradecer a proteção da Virgem.

Saindo do museu, está-se no coração do Centro Histórico, a um passo do Largo da Oliveira e, passando por baixo do edifício dos arcos, abre-se a Praça de Santiago. Este é o centro de uma área de aproximadamente 20 hectares classificados, em 2001, como Património da Humanidade, pela UNESCO. É obrigatório visitar a igreja de Nossa Senhora da Oliveira e admirar o seu órgão, mas antes, vale a pena andar um pouco para trás, ao longo da Rua de Santa Maria, uma das mais antigas, aberta para ligar a “vila baixa” à “vila alta”, no século X.

Um bairro para descobrir

Atravessando o jardim da Alameda de São Dâmaso, chega-se a Couros, zona recentemente reconhecida como Património da Humanidade . São mais 20 hectares, fora de cidade amuralhada, que foram, desde tempos medievais, ocupados por artífices que se dedicavam ao tratamento de peles. A atividade durou até à década de 60 do século passado e deixou inúmeros vestígios arquitetónicos, dos quais, os mais emblemáticos são os tanques de curtimenta. Esta área, em tempos fétida, tinha caído no esquecimento, mas isso mudou nos últimos anos. Numa ronda pelo bairro, através da Travessa do Rio de Couros, chega-se à Universidade das Nações Unidas. Ali mesmo ao lado, fica o renovado Teatro Jordão, fazendo uma volta de 180 graus pode-se visitar o Centro de Ciência Viva e beber um copo no Ramada 1930, no Instituto do Design de Guimarães, instalados em edifícios que estiveram ligados aos curtumes.


Esta reportagem foi publicada na edição em papel do Jornal de Notícias de 8 de outubro de 2023.