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Produtores de Fafe brilham no concurso das Gualterianas

Ricardo Cunha e o tio Carlos estavam felizes, no final do concurso de gado das Festas Gualterianas, na manhã deste sábado, no Campo de São Mamede, em Guimarães. Os seus animais fizeram uma razia aos prémios para a raça barrosã. Ricardo não tinha braços para segurar as seis taças, a que juntava outros prémios.

Ricardo Cunha foi o criador de raça barrosã mais premiado. Foto: Paulo Pacheco/ CMG

É um passatempo muito caro”, comenta, quando insinuam que ganhou muito dinheiro. Os prémios podem chegar aos 130 euros, para touros reprodutores adultos. Ricardo ganhou, não só essa categoria, mas também outras e viu ainda animais seus classificados em segundos e terceiros lugares. “Não dá nem para o transporte. É uma ajuda, mas se não fosse pelo gosto, ninguém andava nisto”, aponta o criador.

Fátima Carneiro, diretora da Cooperativa Agrícola de Guimarães, entidade que organiza o evento, confirma que os produtores têm gastos muito superiores ao que investem. “Há 40 anos, o meu pai começava a lavrar de manhã e depois dava uma mangueirada aos bois para os levar ao concurso a Fermentões. Agora os animais não trabalham, são um custo para quem os tem”, esclarece.

“Mimos” dignos de atletas humanos

Os campeões podem atingir preços e “exigir mimos” dignos de atletas humanos. Ricardo Cunha deu 3000 euros por um touro reprodutor. Mas sublinha que já teve de gastar 5000 numa operação porque “o animal magoou-se num joelho a subir para uma camioneta”.

Ao mesmo tempo que se ouve chamar por “Ricardo Cunha, de Fafe”, nos altifalantes, o criador afirma que leva o nome da sua terra “a todo o lado, mas sem apoio  nenhum”.

Património Único

“Só por questões de controlo sanitário temos de gastar mais de 2500 euros por ano em recolhas de sangue. Há municípios que ajudam”, queixa-se.  Para Fátima Carneiro, “a dedicação que estas pessoas têm aos animais preserva uma atividade única. Este tipo de concursos só existe aqui no Minho, é uma parte da nossa cultura. Faria sentido os concelhos onde existem pensarem numa candidatura a Património da Humanidade.”

Apontando para uma majestosa junta de bois de raça minhota, a responsável sublinha que não se trata apenas de criar os animais. “Estes bois aparelhados têm de ser trabalhados permanentemente. São animais que conseguem puxar um carro e fazem-no, em diversas festas e cortejos”, remata.

Esta reportagem foi publicada na edição online do Jornal de Notícias de dia 6 de agosto de 2023 e na edição em papel do mesmo dia.