Ao cabo de 50 anos a trabalhar no setor, o negócio da restauração não tem segredos para António Ribeiro. Para uma boa vitela à moda de Fafe, a arte está na confeção, mas também na seleção da carne. Por isso, antes de comprar não dispensa ver os animais vivos.
Tradicionalmente os restaurantes de Fafe faziam vitela à quarta-feira, mas a procura começou a ser tanta que a certa altura, no Porto Seguro, rompeu-se com a tradição e passou a fazer-se o prato todos os dias. “Aqui, a vitela nunca falta”, assegura António Ribeiro, o proprietário. Todavia, a casa também é conhecida pelo bacalhau recheado. Num e noutro caso, António Ribeiro afiança que o segredo reside na qualidade dos produtos. “Em relação ao bacalhau, só compro especial. Uma caixa de 25 quilos tem de ter sete peixes. Quando tem oito, já fico aborrecido, porque são pequenos”, esclarece.
“A vitela é comprada sempre no mesmo talho. Ao sábado, ele não sai com os animais para o matadouro sem eu passar por lá. Gosto de os ver vivos”, afirma. Para António Ribeiro um dos segredos do prato emblemático do concelho “é a carne que se produz nesta corda que vai de Fafe até Cabeceiras e Celorico, em que ainda comem erva”.
O dia no Porto Seguro acaba, impreterivelmente, com a preparação da marinada em que a vitela descansa para ir ao forno na jornada seguinte. Depois, é assada na pingadeira (assadeira de barro), em nacos e nunca em peça inteira. “A carne deve ter a quantidade certa de gordura, para não ficar seca nem enjoativa.” Apresenta-se acompanhada com batatas a murro e grelos. António Ribeiro aconselha os vinhos da região, o tinto de Cavez e o branco da Lixa que manda engarrafar para consumo na casa.
O empresário criou nome, em Fafe, num estabelecimento no centro da cidade: a Pensão Brasileira. Na verdade, a casa já tinha deixado de alugar quartos e era um restaurante que António Ribeiro explorou durante 25 anos, com a ajuda de um cunhado. Os andares superiores serviam de alojamento às duas famílias que vieram de Angola após o 25 de Abril. “Tive uma marisqueira na Ilha de Luanda. Sabia trabalhar e agarrei-me”, conta.
A fórmula de habitação e restaurante na mesma casa manteve-se quando construiu o edifício para onde mudou o negócio, em 2000. “Isto era um bairro pouco habitado, fora da cidade. A minha mulher ficou deprimida, pensava que íamos perder os clientes”, recorda. Mas não foi isso que aconteceu. “Vieram todos atrás de mim. Às quartas-feiras [dia da feira semana], até vinham de táxi.”
As sobremesas no Porto Seguro são despretensiosas: mousse de chocolate, baba de camelo, doce da casa. Contudo, exibem o distinto sabor destas coisas simples quando são realmente caseiras. O restaurante tem duas faces: completamente cheio ao fim de semana, em que é preferível marcar antes de ir; muito calmo durante a semana, em que também vende bastante em takeaway.
No futuro, António Ribeiro não sabe o que vai ser do negócio. Os dois filhos estudaram engenharia e, embora um deles se dedique à restauração, “está em Lisboa”. “Para já, não posso fechar porque o povo não me deixa”, diz a sorrir.
Esta reportagem foi publicada na edição de em papel da revista Evasões de 16 de junho de 2023 e na edição online de 19 de junho de 2023.