Cinco mil pessoas pagaram 19 euros cada para ver e ouvir a apresentadora da TVI. Os jornalistas são “anti-Cristina”, diz a também diretora da TVI
Na aproximação ao Multiusos de Guimarães, este sábado pela manhã, ficava logo evidente que a maioria do público era do sexo feminino. Carros chegavam lotados, mas em vez de uma família, traziam cinco mulheres. Havia modelos para todos os gostos e carteiras, desde o Seat Ibiza dos anos 90 até ao Porsche Taycan. Ao chegar às filas para entrar, viam-se os primeiros homens, sempre de mão dada com uma esposa ou uma namorada e com ar de quem está a ser arrastado a contragosto.
É a conferência “Cristina Talks”, de Cristina Ferreira, apresentadora e diretora de entretenimento e ficção da TVI.
Lá dentro, um olhar sobre as cinco mil pessoas que lotavam o Multiusos, reforçava a impressão de ser um evento exclusivo para mulheres. “A Cristina já está pronta, são só mais cinco minutos para meter cá dentro 800 pessoas que ainda estão lá fora”, avisava um elemento da organização. Cada um dos presentes pagou 19 euros – 5 mil pessoas vezes 19 euros dá 95 mil euros – e os bilhetes esgotaram em duas horas, diz a organização.
As pessoas são tão diferentes como os carros em que vieram. Uma mulher em calças de licra, camisola desportiva XXL a servir de túnica e sandálias tipo crocs está ao lado de duas amigas que trazem vestidos de seda, cabelos arranjados a denunciar passagem esmerada no cabeleireiro, saltos altos finos e carteiras de mão que custarão mais do que o salário da mulher das calças de licra.
Também há diferenças de idades, avós que não sabem usar o telemóvel e netas que filmam tudo e partilham em direto. Quando Cristina Ferreira finalmente entra em palco, gritam todas com o mesmo entusiasmo.
“Acreditem que vos vejo a todos”, diz a anfitriã a sorrir muito. “Isto não começou hoje, fui inundada de mensagens, hoje é só o culminar”, assegura. “Se escreveres a tua história, escreves o teu final”, e tudo indica que Cristina vai dar ferramentas para cada um escrever a sua história já ali.
Nossa Senhora nuns sapatos
O primeiro convidado não entra sem um remoque à imprensa e aos críticos: “O que escrevem magoou-me, não por mim, mas por pôr em causa a fé de todos”, lamenta Cristina. A queixa remete para uma história que partilhou numa edição anterior do Cristina Talks: Nossa Senhora ter-lhe-ia aparecido dentro de uns sapatos. Quem brinca com estas coisas tem um nome, diz Cristina: “É anti-Cristina”.
A referência será usada mais vezes ao longo da conferência e explicitamente: os jornalistas são anti-Cristina.
Nas conferências, “todas proferidas por pessoas que me dizem algo”, não há nada que não se possa ler num livro de autoajuda, mas com mais entusiasmo, com saltos e gritos de “siiim!” que a plateia entoa a uma só voz.
A atmosfera é contagiante, até o namorado que chegou com ar contrariado salta como CR7. Um momento de visualização, “as tuas memórias mais felizes”, com música de Hans Zimmer em crescendo emocional. A fórmula é fácil e solta umas lágrimas.
A partir daqui, está montada a plataforma para as vendas: um MBA para aprender a viver, livros, relógios, um site de compra e venda de carros – Cristina vende ali quase tudo para quase todos.
“Quem já veio três vezes meta o braço no ar” – muita gente. “Duas vezes” – ainda mais. Cristina Ferreira deixa a promessa de voltar ao Minho, a 16 de setembro, no Fórum Altice, em Braga.
Esta crónica foi publicada no JN online, no dia 20 de maio de 2023 e na edição em papel do Jornal de Notícias do dia 21 de maio de 2023.